sexta-feira, 24 de maio de 2013

FRIO E COMO SEMPRE, CRISE (MAS SEM CRISES)

Em tempos de frio em São Paulo eu já sei: se prepare que lá vem crise.
Pois, já sabendo, me antecipo: me agasalho, evito me expor ao frio na rua, aumento as doses diárias de água, preparo os analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares (calma que não fico me medicando a toa não hein gente), me enrolo nas cobertas (de agasalho e tudo), preparo os bons livros ao entorno da cama, deito nela, fecho as portas e janelas do quarto, ligo o aquecedor, me enrolo nas cobertas, evito sair ao máximo deste ninho e quase hiberno (quase??).
Mas, mesmo com esta rotina toda preparadinha para que a dor não me pegue de surpresa. Sou sempre surpreendida com a sua presença. E não é que mesmo me preparando bem para que a visita indesejável (mas esperada) não surja (doce esperança, ou seria ilusão), ainda assim ela se faz presente. Pois foi bem assim desta vez.
Fui internada, recebi transfusão de sangue, sai e voltei à minha hibernação deste então. E assim são os dias, uns momentos com muita dor, outros moderada, outros suaves, outros sem dor alguma, apenas frio mesmo. E vou seguindo neste semi isolamento de tudo e do mundo.
Ainda bem, que emocionalmente falando, ando bem preparada para cada um destes momentos: é seguir com gratidão pelo novo dia, traga ele muita ou nenhuma dor. Afinal, toda vida (com ou sem doença crônica) tem seus altos e baixos, então desta vez, ando levando mais suavemente os meus baixos. Ainda mais por ter consciência de que, mesmo me preparando bem, me cuidando ao máximo, não é certeza de que evitarei, ou não sofrerei com mais uma crise. Pois em se falando de Doença Falciforme, todos (que são pacientes, acompanhantes, cuidadores, conhecedores da patologia) sabemos que ela é uma caixinha de surpresa (mesmo com todo auto cuidado e um bom acompanhamento médico). Hoje se está bem, amanhã... bem, aí ninguém sabe.
Então, bora sentir a dor, quando é o que tem, com muito repouso, acompanhada de uma boa leitura, aconchego do lar, acesso a internet e todo o carinho de pessoas muito especiais que estão em minha vida.

A você, meu amigo falcêmico, que como eu sabe o quanto nossa vida pode ser (ainda mais) instável, e vem diariamente se entristecendo, se desesperando, anda chateado, cansado, desanimado com toda esta repetição de nossas rotinas, de tantas crises, internações, pneumonias, necroses, procedimentos cirúrgicos e uma infinidade de outras intercorrências que podem nos suceder, e podem estar lhe sucedendo neste exato momento, tenho que lhe dizer uma coisa: compartilho de sua dor, compreendo o seu sofrimento, mas apesar de tudo, somos fortes, guerreiros (as) e se a vida nos reservou este limão (vulgo doença falciforme), pegue-o e esprema bem seu sumo, junte sua bebida predileta (a minha é água) e faça do que lhe é azedo e desgostoso, algo mais adocicado e delicioso (seja uma limonada, uma caipirinha, seja o que for). É fácil? Não. Mas tentar pode lhe fazer toda a diferença. E como toda bebida gostosa, tem dias que cai bem, outros melhor ainda, tem dias que mesmo com todo açúcar, nos parece sem sabor... mas o que vale é não se entregar a este sabor azedo e tentar adoçá-lo da melhor maneira que você conseguir. Acredite, eu tento todos os dias. Tem dias que me delicio, em outros, apenas espero que passe logo. É isso. Pensamento positivo sempre.



E acredite, a vida vale muito a pena, por mais difícil que possa ser em alguns momentos. Afinal, se em alguns momentos tudo pode estar ruim, lembre-se daqueles em que tudo estava bom. E aguarde, pois dias melhores ainda virão.