domingo, 13 de março de 2011

Adormecida

Ao longo do dia
meu corpo não reage,
permaneço aqui deitada
nesta cama
neste quarto
Parada
Enquanto em mim
algumas hemáceas teimam em ocluir
obstruindo mais que os vasos sanguíneos
obtruindo a visão de um dia melhor
Fecho os olhos, tento dormir
mas o incômodo constante não deixa
Pego um livro, tento ler
mas a mente não se concentra
Amolecida... sinto-me derretendo por dentro
A emoção à flor da pele
banhando o travesseiro
Pensamentos se agarrando à dor que surge,
esta, já não se limita ao corpo

E o passar das horas me atormenta
Quero dormir profundamente
Mas amanhã será um outro dia

sábado, 5 de março de 2011

A DOENÇA COMO CAMINHO

Existe um livro com este título. Um excelente livro por sinal. Mas uso este tema para falar de como me sinto em relação a patologia que tenho. Sinto-me numa caminhada, num percurso de aprendizagem, do qual ainda não aprendi quase  nada e talvez por isso mesmo, esta doença se apresente como empecilho para mim. Não que ela realmente o seja, mas a minha limitação de aprendizagem lhe dá proporções maiores do que ela realmente tenha. Sim, não tenho conseguido lidar muito bem com AF ultimamente. Este ano perdi um amigo muito amado e com a perda, uma incerteza se alastrou de tal forma na minha consciência, no meu íntimo, que esta sendo difícil lidar com este sentimento. É um sentimento de impotência. De que nada posso fazer para conseguir que as coisas sejam diferentes. De que por mais que eu lute, tente, ria... por mais que viva, não esteja vivendo realmente. Por mais que faça de tudo para não deixar a AF me levar, é sempre ela quem dita as regras. E me pergunto porquê? E sei que a resposta esta no que eu disse no inicio deste desabafo,a resposta esta no meu caminho. Se a doença é um caminho, como tenho eu trilhado o meu? Como tenho me relacionado com esta caminhada, o que tenho aprendido nela?... Este é o ponto, as respostas a estas perguntas certamente me levarão a uma saída. E elas estão aqui, eu sinto. Mas porque me prendo em não querer respondê-las, e persisto em carregar neste peito esta angustia do não saber.
Eu sempre digo que é muito cansativo ter uma doença crônica e degenerativa. Pois por mais forte que sejamos, a sombra que dela emana sempre escurece o melhor em nós. Cansa a rotina hospitalar, cansa o descaso médico, cansa ter que ver no rosto das pessoas que você mais ama o a tristeza de não poder fazer nada, cansa ter que parecer bem, quando seu corpo não aguenta mais, ter que sorrir quando se quer chorar, ter que seguir quando se quer parar... cansa lidar com uma dor quase que constantemente. 
Eu não quero tomar remédio para aliviar as minhas dores, não quero porque acompanhei o sofrimento de vários amigos meus que se foram por não ter mais remédio que fizesse efeito durante a crise. Quero deixar meu corpo "limpo" de novo. Quero que meu organismo aceite um paracetamol como a droga mais potente do mundo novamente. Quero fugir da morfina, codeína, dalantina... de todas esta "inas" que sei serem necessárias às vezes. E quero isso porque aquele sentimento de impotência tem me dominado. Porque me pergunto até quando meu organismo ainda reagirá as drogas. Pois não quero o efeito viciante no meu corpo. Não quero tomar 3ml de morfina intravenosa e não sentir nada, não ver a dor diminuir. 
Estou em crise, uma crise que eu diria amena, pois as dores embora constantes, são moderadas, suportáveis e ainda assim incomodas. Tem uma que teima no osso frontal  da perna, que parece agulhada, fina, persistente. Nas costas é mais apenas um dolorido, tipico de alguma atividade fisica extenuante (embora não tenha feito nenhuma), e nos braços, punhos, outras pontadas irregulares. Um dolorido toma conta do corpo, e somo a isso um cansaço físico e emocional. Estamos apenas inciando o ano, e novamente elas se fazem presentes. As dores como companhia assombrante.
Acho que vou reler o livro citado para ver se encontro a luz no fim do túnel. Pois sei que ela existe. Só que me parece que a vista anda um pouco lenta na busca. Falta-me foco neste ponto.
Tenho medo. Medo do futuro. Mas não deveria. Pois ele é tão incerto para mim, como a todos os outros seres humanos, com ou sem patologia, com ou sem dor. Mas o medo que agora me paraliza, servirá também de força propulsora para uma nova etapa. Sei que é apenas mais uma fase, como tantas.
Creio que devemos respeitar as fases da vida, e vivê-las sem muita indagação pelo menos no momento em que se esta nesta fase. Se o momento é de tristeza, sinta-o. Se é de alegria, sinta-o. Eu costumo sentir muito intensamente todas as emoções que se apresentam à minha frente, em minha vida. 
Acho que estou, neste caminho que é a doença, numa fase de prostração. Quando você caminha muito numa estrada e não vê nada além de estrada a ser percorrida à sua frente, é comum parar para descansar, para buscar forças e seguir adiante. É isso que estou vivendo. Um momento de parada. Preciso de forças, ânimo, coragem... enfim. Sei que preciso seguir, mas neste momento é importante que eu esteja parada, que eu sinta, que eu viva esta sensação de vazio, medo, incerteza, fraqueza. É preciso que eu aprenda com estas emoções, para saber trilhar o caminho. Para conseguir seguir adiante nesta caminhada, nesta estrada que tanto tem para ensinar.