segunda-feira, 22 de agosto de 2011

QUANDO A PALAVRA EXTINGUE A DOR

Frio. Ele sempre me pega de jeito. O incrível é que por mais acostumada que eu esteja com a dor (sim, todo ser humano se acostuma, se adapta a tudo nesta vida), toda vez é a mesma história. O tempo muda, o corpo geme, finjo que não ouço, o gemido vira grito, aí já nem dá mais para abafar, caio em pranto, me chateio, choro, sofro, sinto bem o que há para sentir (dor, dor e dor), resisto, respiro fundo e tento não me deixar levar pela crise. Afinal, tem coisa mais chata que uma pessoa doente e lamuriosa?!... Não, é melhor sentir a dor no meu melhor estilo (calada e sozinha), e quando diante dos outros, um leve sorriso no rosto, firmeza no corpo (que é muito dificil conseguir, diga-se de passagem) e na voz. E quando não dá para ser assim, bem sejamos fortes da forma que pudermos (chorando baixinho sem ninguém perceber), ou utilizando-se destes espaços para amenizar os "ais" (este é o meu caso). O importante é mantermo-nos no controle da situação. Afinal, quem tem Anemia Falciforme (ou qualquer outro tipo de doença crônica e degenerativa) sabe muito bem o quanto o estado emocional pode atrapalhar tudo, e o que era dor, pode virar dor em dobro, triplo, enfim...
Escrevo isso pois sim, está um puta frio aqui em SP e eu estou em crise. DOR novamente. E estou lutando com ela, pois prometi a mim mesma que não me internaria mais este ano (e vou cumprir custe o que custar), e por não querer retornar a uma enfermaria hospitalar, venho aqui desabafar ujm pouco, para ver se me concentro menos na dor e quem sabe, consigo afastá-la de mim (não custa sonhar né?!).
Doe-me completamente tuuudo. Tomei paracetamol, esperei 8 horas, tomei codex, esperei mais oito, tomei faz uma meia hora tramal (dois de 100mg) e meu corpo ainda grita. Escrevo com a dificuldade de quem ainda não foi alfabetizado (tamanha dor que me aflige), mas persisto em ficar aqui, tentando talvez com isso, fazer com que a dor saia pelas pontas de meus dedos e suma do meu corpo.
Só quem já sentiu uma dor constante, intensa, forte e permanente pode compreender do que eu estou falando. Meus companheiros de luta certamente a compreendem, pois partilhamos do mesmo fardo (que embora seja pesado, fica tão mais ameno quando é partilhado). Acho que é por isso também que escrevo. Não que eu queira partilhar minha dor com alguém (ao contrário, não desejo que ninguém sinta-a no meu lugar, nem a éspecie mais vil dentre os piores seres humanos). Mas falar sobre ela, me auxilia a lidar com seus efeitos em mim. Vai amenizando em mim o dissabor de sentí-la. Vai dissuadindo as tramas que emaranham-se em minha mente, quando ela tão persistentemente dura mais que um dia, sem trégua. As palavras possuem poder, e acredito que com elas (assim mesmo escritas neste papel virtual) posso extinguir minha dor.
Eu tento sempre ser forte, e quem me conhece sabe que quando tento algo, o faço com total entrega de mim. Mas mesmo com tanta força de vontade, não é das tarefas mais fáceis driblar algo que quer estar ali, presente, que se anuncia, que chega inesperadamente (ou esperadamente, mas indesejadamente como neste caso), que frequentemente lhe grita, chamando-lhe a atenção. E é assim a DOR em minha vida. Uma presença que no período do frio, embora seja esperada, é muito indesejada. E esta presença é intensa demais, forte demais, e por vezes me vence, me derruba... mas não se preocupem, não me derrota.
Bem, vou deixando-os pois embora eu esteja aqui firme e forte, a dor parece que não quer perder este duelo e não rendeu-se as doses medicamentosas que lhe joguei, e está ficando ainda mais complicado conseguir escrever. Então, jogo o meu lenço por agora... mas ainda venço esta luta.


8 comentários:

  1. Força colega! Vc está no caminho certo!!! Pensamento maravilhoso!!! Moro na Bahia e tenho vontade de visitar São Paulo, mas não tenho coragem por conta do frio. Belíssimas palavras! Saiba que Deus está contigo!!!!

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  2. Oi Edineusa. Agradeço suas doces palavras. Eu estou me mudando para Bahia, Salvador especificamente. Também não aguento mais este frio daqui. Mas olha, final e começo de ano, dá para vc arriscar uma visita. SP tem coisas bonitas no meio deste caos urbano. Que sua vida seja sempre regada de força, coragem, paz e muita luz! Fraterno abraço!

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  3. Não existe coisa piro que o frio para os anêmicos, eu moro em Teresina-PI que por sinal pe muito quente, mais mesmo assim eu não escapo do frio de manhã cedo, nos banhos de piscina,e etc!! o interessante é que pra gente tudo tem que ser da medida certa, nem frio demais, nem calor demais, se não desidrata!! rsrs amei o seu blogue!! ^^

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    1. Clicletinho, obrigada pelo comentário. Desculpe-me ter visto somente agora (quase um ano depois..rs), mas novamente deixei este cantinho em abandono. E você tem razão, tudo o que é demais (e isso para além da nossa vida de falcêmicos) é ruim e traz problemas. Abraço. Paz e Luz em seus caminhos. Vou tentar retomar o blogue, então, volte mais vezes e seja bem vinda :)

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  4. Estou estudando doença falciforme e me emociono bastante, quando assisto os depoimentos de pessoas que como você, são portadores da doença ,e que mesmo em meio à tanta dor e sofrimento, encontram forma de nos passar uma experiência tão rica e tão cheia de amor.
    Que em Deus, vc encontre forças para vencer tantos obstáculos e que sua dor dignifique cada vez mais sua alma.
    Forte abraço!!

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  5. Primeiramente sinto muito por sentir tanta dor, segundo agradecer pelo lindo texto que escreveu. Graças a DEUS nunca passei por isso, mas imagino que deve ser horrível, sou farmacêutico e já ouvi relatos de pessoas com Doença Falciforme, admiro bastante essa sua capacidade em compartilhar um pouco de sua "dor". E que texto lindo, apesar de se tratar de dor.

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  6. Estou estudando sobre doenças falciforme, vendo depoimentos como esse seu me emociono e aprendo. Aprendo me aproximar mais dos pacientes que chegam pra mim, a valorizar a dor do outro e tentar amenizá-la de alguma forma. Cuidei de crianças com a doença é muito doloroso, uns já não estão mais aqui, hoje com a experiência destes curso e com os relatos e vídeos, vejo a necessidade de uma capacitação dos profissionais de saúde para atendimento a esse público, o qual é tso carente de atenção e cuidado. Muito obrigada por suas palavras mesmo diante da dor imensurável. Moro aqui na Bahia em Salvador
    Deus te abençoe
    Bjão

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  7. Emocionante as palavras, só agora percebo o quanto é duro para as pessoas portadoras de Doença Falciforme, que Deus dê coragem, força e fé para cada um.

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